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Física às margens do Código de Trânsito Brasileiro
Menos velocidade + mais distância = freadas com mais segurança
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"MINISTÉRIO DAS CIDADES
CONSELHO NACIONAL DE TRÂNSITO
DEPARTAMENTO NACIONAL DE TRÂNSITO
Código de Trânsito Brasileiro
CAPÍTULO III
DAS NORMAS GERAIS DE CIRCULAÇÃO E CONDUTA
Art. 29. O trânsito de veículos nas vias
terrestres abertas à circulação obedecerá às seguintes normas:
II - o condutor deverá guardar distância de segurança lateral e frontal
entre o seu e os demais veículos, bem como em relação ao bordo da pista,
considerando-se, no momento, a velocidade e as condições do local, da
circulação, do veículo e as condições climáticas;"
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Há quem acredite que o freio serve para parar o carro. Na verdade o freio serve para desacelerar o carro, ou seja, diminuir sua velocidade. Daí, se empregado por tempo suficiente, o freio, então, reduz tanto a velocidade que pode, inclusive, parar o carro!
O que estou querendo mostrar com isso é que parar um carro leva tempo. O veículo não para quando você fica com vontade que ele pare. Ele não para nem no instante em que você, efetivamente, pisa no pedal do freio! E mais: se parar o carro é desacelerá-lo desde sua velocidade inicial até o repouso, então, a "velocidade inicial" é uma das grandezas físicas relevantes no ato de frear! E a relação é mais ou menos assim: quanto maior for a velocidade inicial, maior o tempo necessário para parar o carro.
Mais ainda: parte do trabalho de parar o veículo depende da ação do mecanismo de freio sobre as rodas - transformando a energia do movimento em calor - e a outra parte depende do atrito dos pneus com a estrada. Sendo assim, comparemos uma frenagem em estrada seca com outra em estrada molhada (pela chuva, por exemplo). A camada de água sobre o asfalto reduz o atrito entre os pneus e a estrada, dificultando a desaceleração e aumentando o tempo necessário até a parada completa do veículo.
Agora deixe-me dizer tudo isso, de novo, com outras palavras: durante o tempo de desaceleração (quer o carro esteja, inicialmente rápido ou não; quer o asfalto esteja molhado ou não), o veículo continua se movendo. O que nos leva a outro aspecto da frenagem, para o qual quero dar, agora, mais atenção do que dei ao tempo: a distância de frenagem. Tudo o que deduzimos antes sobre a relação entre a velocidade inicial e o atrito com a estrada com o tempo gasto para conseguir parar um veículo, vale, também, para a distância de frenagem. Quer dizer: quanto maior o tempo de frenagem, maior a distância de frenagem, sob as mesmas condições.
Dito tudo isto, vamos imaginar cenários possíveis? "Carro com velocidade alta em dia de chuva": esse você não quer nem imaginar! "Carro com velocidade reduzida em dia de chuva": você não pode controlar a chuva, mas pode controlar a velocidade do seu veículo. "Carro com velocidade alta em pista seca: se você é quem controla a velocidade do seu veículo, aproveita que a natureza ajudou e não está chovendo, e anda devagar, ora! "Carro com velocidade reduzida em em pista seca": motorista que sabe Física dirige assim!
Legal, né? Achou também? Mas não acaba aí, não, viu! Já olhamos para a velocidade, para o atrito, para o tempo e para a distância. Sabe o que ainda não vimos? O veículo que vai bem aí, à sua frente. Cuidado! Mantenha distância! Uma distância "de segurança", diz o CTB, "considerando a velocidade... e as condições climáticas". Viu?! Física no Código de Trânsito!
Talvez desde o começo deste comentário, à medida que ia lendo as situações apresentadas, você fosse imaginando na sua cabeça um obstáculo FIXO que o obrigasse a frear o carro até parar. Mesmo pensando assim, pudemos notar a gravidade (a importância, a seriedade... não "aquela" gravidade, apesar de este ser um texto de Física) das ações e das escolhas que o motorista deve fazer para garantir uma freada com segurança. Agora repense tudo com um obstáculo móvel à sua frente: outro veículo, dirigido por outra pessoa.
Ora, se você avista um obstáculo fixo à sua frente - pode ser até o semáforo no vermelho -, seu cérebro avalia a distância, percebe a velocidade em que você está e "decide a força" a ser aplicada nos freios. Mas, e se o motorista à sua frente pisar no freio quando você menos espera?!
Enquanto os dois estão trafegando, seu cérebro avalia a distância entre os veículos. Se você mantiver a distância é porque estão indo à mesma velocidade. Se a distância aumentar, ele está mais rápido. Se a distância diminuir e você estiver "colando" na traseira dele, é porque está indo com uma velocidade maior. Com a velocidade que você está e nas condições climáticas presentes, será que a distância entre vocês é a necessária para conseguir frear seu carro?! Essa é a tal "distância de segurança". É a distância que lhe permite, dada a velocidade em que você está no início da freada e as condições da pista, conseguir parar antes de colidir na traseira do outro.
Tudo isso não esquecendo que, mesmo estando com a atenção 100% na estrada à sua frente, seu cérebro ainda precisa de um tempo entre ver a luz de freio do carro da frente acender e o pé pisar, efetivamente, o pedal de freio. E enquanto seu cérebro reage, a distância entre vocês está diminuindo! Ao tempo e a distância de frenagem propriamente ditos, portanto, some-se o que acontece antes de os freios serem acionados
Conclusão: andar colado no outro carro não te dá tempo nem espaço suficiente para reagir em uma situação emergencial.
Quem anda colado na traseira é adesivo e frase de caminhão, rapaz!
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Idelfranio lendo - pelo menos em parte - o texto acima.
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